terça-feira, 8 de janeiro de 2013


Posso ver tanto que até me esqueço do que vim remoendo. Esses poucos quarteirões me doem de um jeito que nunca aconteceu. O peso nas costas, mesmo tendo acabado de acordar, é da sensação guardada do dia interminável que está por vir. Tudo incomoda. A terra revolvida da calçada em reforma, os pedestres que tentam atravessar antes do sinal fechar para os carros, o ponto de ônibus que me impede a visão caso queira sentar  a minha maneira, os passantes no próprio ponto me olhando, buzinas, o beijo mal ganhado antes de sair de casa, as moedas estufando no bolso, a alça da blusa caindo, sede e mãos secas, o café que poderia estar tomando com mais calma, mais buzinas, o ranger dos pneus afoitos, bicicletas na contra-mão, lixo na calçada, a vida das pessoas que não conheço que nem sei pra onde vão. Tudo incomoda e não incomodo ninguém. Não que eu saiba.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Comia de vez em quando, num restaurante chinês tão sujo quanto a imagem que tinha da China.
Não colocava carne com cebola no prato com medo de ser carne de cachorro.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Salmos e Provérbios

Digo "um senhor quarto de hotel", que nem deve ser lá essas coisas pra quem já está acostumado. Ar frio e chuva lá fora, pra quem mora em Joiânia, é o luxo dos luxos nessa época do ano. Banho quente, vindo de uma ducha perfeita. Aquela água que cai distribuída e forte. O fr(ee)gobar cheio de cerveja: pasmem, é Skol. Simidão, então vâmo, té injeção na testa, já dizia alguém por aí. A comida: excelente. Até sopa de macarrão com feijão, daí já é coisa de avó, cativante. Até então, estamos quase no paraíso, isso porque nem citei da camareira, que levou minha camisa amarrotada e a trouxe numa lisura ÚNICA. Servicinho 5 estrelas. Melhor que isso, só desbloqueando a porra do firewall.
Maaaaas bem que desconfiava, quando horas mais cedo, bati o olho "novo testamento" no criado mudo (coitado, melhor ficar calado nesse caso), que aquilo era o prenúncio de uma tragédia. Meu marido jurou de pé junto que tem desse livro em toda cabeceira de quarto de hotel. Mas que paisínho mais católico de merda.  Graças a maldição do novo testamento em quartos de hotel, senhores e senhoras de bem (porque não?) não se pode acessar sites pornográficos. Poxa vida, mas que puxa!,isso é literalmente, e finalmente muito apropriado dizer: uma puta falta de sacanagem.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

(in)Potência.
Tipo bomba explodindo um vazio.

Sentinelas vigiando o nada.
E nós, sob vigia.

(a)Provação
Tipo anjo de asa quebrada.
Precisa voar e não sai do lugar.
E nós, sob proteção.

(a)Feição
Tipo sua cara transfigurada.
Anti-amor, ansiosa pelo tapa.
E nós, sobre humanos.

(a)Tenção
Tipos nossos braços rijos,
Travando guerra.
E eu, um monstro.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Pela manhã, tinha uma pássaro se alimentando de migalhas de pão em cima da mesa da cozinha. No céu, havia um azul beirando a beleza perfeita. Pouquíssimas nuvens. O ar fresco. Brilho de sol iluminando naquela porcentagem quase exata.

É a vida ensaiando abril.
Meu coração ensaiando dias ainda mais felizes.



quarta-feira, 21 de março de 2012

O ar. Estranho
do quarto.
O par. Estranho
da cama.
O (p)ar sobra,
paira.
Silêncio ensurdecedor.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tentando a profissão Ghost Writer

Cintilante é palavra bonita. E quando está assim, descrente de todo ser vivente (que não é redundante dizer, pois há muitos e muitos seres que não levam vidas... levam algo que não merece ser observado, dito, pensado) a sua volta, se apega no que lhe parece menos tedioso. Acho que é caso de defesa de organismo.

"Cintilante é palavra que sempre achei bonita", repete pra si em silêncio. É adjetivo de coisa que brilha. Destaca. Tem luz nem que for emprestada por purpurina fabricada nas beiradas do terceiro mundo e subemprego. Cintilante é só palavra bonita - repensou, quando vislumbrou o último esmalte cor de bolinha de natal que a manicure com tanta insistência a convenceu usar.

Cintilante é sorriso de quem usa colar de brilhante em baile de 1920. Que tem luva, chapéu e até um ou dois disputando atenção naquele salão imenso. Brilhante, diamante, cintilante. Tudo palavra bonita. Que menininha aprende nas histórias infantis desde sempre. Deve ser isso. Tudo que vem junto com o final feliz. Ilusão vendida. Comprada. Muito da mal usada. Obsoleta. Démodé. Bem breguinha. Tipo algum texto da Clara Dawn recheado de epifanias líricas. "Por Deus", quase caí lá!