A saudade de Feliciana se acostumou.
Acostumou tanto ser saudade que perdeu as propriedades orgânicas: as vitaminas.
Desacelerou o metabolismo.
Suas moléculas já são incapazes de gerar o (des)conforto (des)necessário.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Gracinha e Lindomar
Gracinha, porque assim gostava de ser chamada. Melhor Gracinha do que Graça, como se algo de bom estivesse sempre a agraciá-la. Ou então: Chegou Graça! Não, melhor não causar falsos impactos.
E hoje o dia estava infinitamente belo para ela. Não se cansava de ir até o para-peito da varandinha do seu trabalho para apreciar o tempo. Esperou sem saber que estava esperando. Esperava sempre todos os anos, e mesmo assim, quando tudo se passava, esquecia de esperar. Vai saber porque, deve ser tendência mesmo do ser humano de esquecer das coisas boas e bonitas. O céu do Cerrado, aquele peculiar que sempre se inicia no mês de abril, logo quando acabam as chuvas, mesclado a nuvens escassas. Mas bom mesmo é quando não há nuvens. O sol que brilha diferente. Brilha tímido, mas brilha forte. Brilha único. O vento para dar o desfecho da obra prima da estação: frio e forte. Mas aquele frio que um goiano pode suportar. O frio de se poder colocar um lenço no pescoço, usar botas meias grossas e o que mais for de bonito existente no guarda-roupa bagunçado dela.
Gracinha toda hora ia correndo com seu cigarro e café para aquele lugar. Era o terceiro andar do prédio, já dava altura razóalvel, melhor que sua janela do quarto, que se encontra no segundo andar de uma casa grande. A vista dessa sacada improvisada, que divide sua presença com rodos e vassouras de limpar a empresa, era o infinito. Se olhasse mais pra perto do prédio, casas feias. Melhor então era olhar beeem adiante e esquecer que estava na periferia de Aparecida de Goiânia.
Cada vez que parava ali, seu peito ia enchendo, enchendo. Enchia de coisas muito boas. Como se algo bom pudesse chegar. Como se alguma coisa muito boa fosse acontecer assim, inesperadamente. E voltava lá a todo momento, porque sentir aquilo era bom demais. Algumas lembranças espaçadas. Mas nada importante. Toda hora que voltava a sala sentia necessidade de contar:
_Vocês viram? O céu finalmente chegou!!!
Gracinha esperou tanto. Agora poderá dormir de janelas abertas, só pra sentir o espetáculo diário, a combinação perfeita que tanto enche seu coração de alguma coisa boa que não sabe explicar.
E de tanto ir e vir, no mesmo lugar, chegou ao seu lugar mais comum. A lembrança ideal. Aquela que ela nem sabia definir. Algo que a fez estar bem todos esses anos nessa mesma época.
É Lindomar. Foi bem assim, desse jeito. Lindomar veio em um abril qualquer, há mais ou menos sete anos atrás.
_ Abril e Lindomar. Mas então é isso!!!!!!!! Exclacmou alto para si.
Junto com aquele céu mais o sol e todo o resto, veio a paixão de Gracinha. Era naquele tempo de faculdade. Acordava cedo, levava um copinho de café de casa. Descia os quarteirões com aquele frio na barriga, sem saber a hora certa de vê-lo. Podia ser a qualquer momento. Ou no intervalo, entrada saída. Todo dia uma surpresa. Era tanta paixão, tanta blusa de frio, arrumações, músicas, cafés, cigarros, cervejas. Horas de aula perdidas para se perder no olhar caidínho de Lindomar. E sempre voltar pra casa pensando se estava apaixonado também.
Abril foi um marco.
Para todos os anos consecutivos, essa foi a melhor estação sempre.
Incoscientemente, Gracinha levou consigo as melhores sensações, só não pode mais, levar Lindomar.
E hoje o dia estava infinitamente belo para ela. Não se cansava de ir até o para-peito da varandinha do seu trabalho para apreciar o tempo. Esperou sem saber que estava esperando. Esperava sempre todos os anos, e mesmo assim, quando tudo se passava, esquecia de esperar. Vai saber porque, deve ser tendência mesmo do ser humano de esquecer das coisas boas e bonitas. O céu do Cerrado, aquele peculiar que sempre se inicia no mês de abril, logo quando acabam as chuvas, mesclado a nuvens escassas. Mas bom mesmo é quando não há nuvens. O sol que brilha diferente. Brilha tímido, mas brilha forte. Brilha único. O vento para dar o desfecho da obra prima da estação: frio e forte. Mas aquele frio que um goiano pode suportar. O frio de se poder colocar um lenço no pescoço, usar botas meias grossas e o que mais for de bonito existente no guarda-roupa bagunçado dela.
Gracinha toda hora ia correndo com seu cigarro e café para aquele lugar. Era o terceiro andar do prédio, já dava altura razóalvel, melhor que sua janela do quarto, que se encontra no segundo andar de uma casa grande. A vista dessa sacada improvisada, que divide sua presença com rodos e vassouras de limpar a empresa, era o infinito. Se olhasse mais pra perto do prédio, casas feias. Melhor então era olhar beeem adiante e esquecer que estava na periferia de Aparecida de Goiânia.
Cada vez que parava ali, seu peito ia enchendo, enchendo. Enchia de coisas muito boas. Como se algo bom pudesse chegar. Como se alguma coisa muito boa fosse acontecer assim, inesperadamente. E voltava lá a todo momento, porque sentir aquilo era bom demais. Algumas lembranças espaçadas. Mas nada importante. Toda hora que voltava a sala sentia necessidade de contar:
_Vocês viram? O céu finalmente chegou!!!
Gracinha esperou tanto. Agora poderá dormir de janelas abertas, só pra sentir o espetáculo diário, a combinação perfeita que tanto enche seu coração de alguma coisa boa que não sabe explicar.
E de tanto ir e vir, no mesmo lugar, chegou ao seu lugar mais comum. A lembrança ideal. Aquela que ela nem sabia definir. Algo que a fez estar bem todos esses anos nessa mesma época.
É Lindomar. Foi bem assim, desse jeito. Lindomar veio em um abril qualquer, há mais ou menos sete anos atrás.
_ Abril e Lindomar. Mas então é isso!!!!!!!! Exclacmou alto para si.
Junto com aquele céu mais o sol e todo o resto, veio a paixão de Gracinha. Era naquele tempo de faculdade. Acordava cedo, levava um copinho de café de casa. Descia os quarteirões com aquele frio na barriga, sem saber a hora certa de vê-lo. Podia ser a qualquer momento. Ou no intervalo, entrada saída. Todo dia uma surpresa. Era tanta paixão, tanta blusa de frio, arrumações, músicas, cafés, cigarros, cervejas. Horas de aula perdidas para se perder no olhar caidínho de Lindomar. E sempre voltar pra casa pensando se estava apaixonado também.
Abril foi um marco.
Para todos os anos consecutivos, essa foi a melhor estação sempre.
Incoscientemente, Gracinha levou consigo as melhores sensações, só não pode mais, levar Lindomar.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Feliciana_primeiro ato
O olhar dele chega junto com aquela coisa embolada no estômago. O sorriso que tanto faz falta hoje, sorrindo por aí, sorrindo para outras bocas, tão mais carnudas e vermelhas que a de Feliciana.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Efeito colateral
Começava sempre nos meados de março. Não sei se o excesso de chuva da época, misturado ao gosto pelos cigarros, sereno. Sei que aquela tosse era seca. Barulhenta. Não tinha chá ou remédio que desse jeito. Receita de todo tipo já tinha feito, menos parar de fumar. Sempre vinha crises em horários impróprios. Era olhar para a cara do seu cliente e pronto. O cantarolar duro de cofs cofs começava e terminava com seu rosto ardendo em chamas, tanto de vergonha, como da própria reação da tosse. Às vezes, escorria lágrimas. Era triste de assistir. A piedade (e na verdade, o saco cheio dos ouvintes), os empurrava a indicar mais receitas, mandingas, e era um tal de "levanta os braços!".
O episódio durava meses. Ao menos uns três. Épocas piores, melhores. Mas sempre uma tossinha de fundo. Como se sentia mal. Então acendia um cigarro com a certeza de nunca seria vencida.
_ Nenem, você reparou que você fica tossindo pra sempre?
_ Claro que não. Nem estou tossindo mais, faz semanas já.
_ Você nem percebe, olha só!
O fato é que aquela tosse o incomodava mais que a qualquer outra pessoa. Eles sempre um de encontro ao outro, porta a porta, mas separados por um corredor. Ele sempre imerso nos seus devaneios lunares, e no amor que não sabia demonstrar. Com seus modos taciturnos, sorrateiros, passava horas de frente ao trabalho, com todo aquele amor que abandonava demais. Ela do outro lado, o vigiava sempre da cama, impaciente, programando coisas, sonhando com o futuro que nunca ia chegar, imaginando casamento, talvez até animaria de ter outro filho. Às vezes ia lá, dava um beijo, fazia mãnha, pedia que largasse tudo e fosse deitar com ela, ou dar uma volta. Tudo em vão.
Aquela tosse fazia dela uma lembrança.
Ele, não queria ser lembrado, que de vez em quando, era necessário Doar.
O episódio durava meses. Ao menos uns três. Épocas piores, melhores. Mas sempre uma tossinha de fundo. Como se sentia mal. Então acendia um cigarro com a certeza de nunca seria vencida.
_ Nenem, você reparou que você fica tossindo pra sempre?
_ Claro que não. Nem estou tossindo mais, faz semanas já.
_ Você nem percebe, olha só!
O fato é que aquela tosse o incomodava mais que a qualquer outra pessoa. Eles sempre um de encontro ao outro, porta a porta, mas separados por um corredor. Ele sempre imerso nos seus devaneios lunares, e no amor que não sabia demonstrar. Com seus modos taciturnos, sorrateiros, passava horas de frente ao trabalho, com todo aquele amor que abandonava demais. Ela do outro lado, o vigiava sempre da cama, impaciente, programando coisas, sonhando com o futuro que nunca ia chegar, imaginando casamento, talvez até animaria de ter outro filho. Às vezes ia lá, dava um beijo, fazia mãnha, pedia que largasse tudo e fosse deitar com ela, ou dar uma volta. Tudo em vão.
Aquela tosse fazia dela uma lembrança.
Ele, não queria ser lembrado, que de vez em quando, era necessário Doar.
Tente convencer(-te) Carmem.
Alguns meses atrás:
_ Tenho raiva de homens! (desviou o olhar)
_ Engraçado, minha piscicóloga me disse o mesmo... tenho raiva das mulheres! Ah, ninguém sabe que eu já fiz terapia, então fica de bico calado viu?
Carmem podia agora falar que tinha raiva dos homens. Finalmente lhe foi dada um argumento a altura de sua vontade incontralável de traí-los. Ah, muito melhor isso do que o diagnóstico de baixa estima, medo de rejeição, ou coisas que acabam com a saúde da mulher. Apesar de que se Carmem raciocinar bem, uma coisa leva a outra que leva a outra e assim por diante. Tsc. Encheu a boca de cerveja, pra não fazer todas essas ligações óbvias. Sua psicóloga apesar de nova, e taurina, deu-lhe a melhor muleta de todos os tempos. Bastasse manter essa raiva no coração, e pronto. Poderia então, experimentar sempre, do bom e do melhor.
...
Alguns dias atrás:
_ Sabe um dia, que nós conversamos, que te contei que tinha raiva das mulheres?
_ Sim! (como ela poderia esquecer!)
_ Eu menti.
_ Você mentiu? Por que fez isso?
_ Queria criar uma identificação com você.
Claro que Carmem, com os pés juntos e olhos indignados, tentou provar a ele, que isso não era necessário. Que tinha dito isso com muita verdade no coração. Que jamais precisaria inventar algo assim, para que se criasse uma identificação entre eles. Pediram mais cerveja, porque agora o papo tinha ficado muito sério. Ela teve que recontar todas as vezes que o quis com muita paixão, e que pela raiva e o medo da entrega, de todos os lados que se pudesse imaginar, nunca havia feito. Ele escutava sempre em silêncio, e quando falava, olhava nos olhos.
Nesse dia, Carmem ganhou uma rosa vermelha, seu primeiro presente, depois de 4 anos. Ganhou também uma dúvida: "em qual das mentiras, devo acreditar?"
_ Tenho raiva de homens! (desviou o olhar)
_ Engraçado, minha piscicóloga me disse o mesmo... tenho raiva das mulheres! Ah, ninguém sabe que eu já fiz terapia, então fica de bico calado viu?
Carmem podia agora falar que tinha raiva dos homens. Finalmente lhe foi dada um argumento a altura de sua vontade incontralável de traí-los. Ah, muito melhor isso do que o diagnóstico de baixa estima, medo de rejeição, ou coisas que acabam com a saúde da mulher. Apesar de que se Carmem raciocinar bem, uma coisa leva a outra que leva a outra e assim por diante. Tsc. Encheu a boca de cerveja, pra não fazer todas essas ligações óbvias. Sua psicóloga apesar de nova, e taurina, deu-lhe a melhor muleta de todos os tempos. Bastasse manter essa raiva no coração, e pronto. Poderia então, experimentar sempre, do bom e do melhor.
...
Alguns dias atrás:
_ Sabe um dia, que nós conversamos, que te contei que tinha raiva das mulheres?
_ Sim! (como ela poderia esquecer!)
_ Eu menti.
_ Você mentiu? Por que fez isso?
_ Queria criar uma identificação com você.
Claro que Carmem, com os pés juntos e olhos indignados, tentou provar a ele, que isso não era necessário. Que tinha dito isso com muita verdade no coração. Que jamais precisaria inventar algo assim, para que se criasse uma identificação entre eles. Pediram mais cerveja, porque agora o papo tinha ficado muito sério. Ela teve que recontar todas as vezes que o quis com muita paixão, e que pela raiva e o medo da entrega, de todos os lados que se pudesse imaginar, nunca havia feito. Ele escutava sempre em silêncio, e quando falava, olhava nos olhos.
Nesse dia, Carmem ganhou uma rosa vermelha, seu primeiro presente, depois de 4 anos. Ganhou também uma dúvida: "em qual das mentiras, devo acreditar?"
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