Começava sempre nos meados de março. Não sei se o excesso de chuva da época, misturado ao gosto pelos cigarros, sereno. Sei que aquela tosse era seca. Barulhenta. Não tinha chá ou remédio que desse jeito. Receita de todo tipo já tinha feito, menos parar de fumar. Sempre vinha crises em horários impróprios. Era olhar para a cara do seu cliente e pronto. O cantarolar duro de cofs cofs começava e terminava com seu rosto ardendo em chamas, tanto de vergonha, como da própria reação da tosse. Às vezes, escorria lágrimas. Era triste de assistir. A piedade (e na verdade, o saco cheio dos ouvintes), os empurrava a indicar mais receitas, mandingas, e era um tal de "levanta os braços!".
O episódio durava meses. Ao menos uns três. Épocas piores, melhores. Mas sempre uma tossinha de fundo. Como se sentia mal. Então acendia um cigarro com a certeza de nunca seria vencida.
_ Nenem, você reparou que você fica tossindo pra sempre?
_ Claro que não. Nem estou tossindo mais, faz semanas já.
_ Você nem percebe, olha só!
O fato é que aquela tosse o incomodava mais que a qualquer outra pessoa. Eles sempre um de encontro ao outro, porta a porta, mas separados por um corredor. Ele sempre imerso nos seus devaneios lunares, e no amor que não sabia demonstrar. Com seus modos taciturnos, sorrateiros, passava horas de frente ao trabalho, com todo aquele amor que abandonava demais. Ela do outro lado, o vigiava sempre da cama, impaciente, programando coisas, sonhando com o futuro que nunca ia chegar, imaginando casamento, talvez até animaria de ter outro filho. Às vezes ia lá, dava um beijo, fazia mãnha, pedia que largasse tudo e fosse deitar com ela, ou dar uma volta. Tudo em vão.
Aquela tosse fazia dela uma lembrança.
Ele, não queria ser lembrado, que de vez em quando, era necessário Doar.
ai! doeu!
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