Gracinha, porque assim gostava de ser chamada. Melhor Gracinha do que Graça, como se algo de bom estivesse sempre a agraciá-la. Ou então: Chegou Graça! Não, melhor não causar falsos impactos.
E hoje o dia estava infinitamente belo para ela. Não se cansava de ir até o para-peito da varandinha do seu trabalho para apreciar o tempo. Esperou sem saber que estava esperando. Esperava sempre todos os anos, e mesmo assim, quando tudo se passava, esquecia de esperar. Vai saber porque, deve ser tendência mesmo do ser humano de esquecer das coisas boas e bonitas. O céu do Cerrado, aquele peculiar que sempre se inicia no mês de abril, logo quando acabam as chuvas, mesclado a nuvens escassas. Mas bom mesmo é quando não há nuvens. O sol que brilha diferente. Brilha tímido, mas brilha forte. Brilha único. O vento para dar o desfecho da obra prima da estação: frio e forte. Mas aquele frio que um goiano pode suportar. O frio de se poder colocar um lenço no pescoço, usar botas meias grossas e o que mais for de bonito existente no guarda-roupa bagunçado dela.
Gracinha toda hora ia correndo com seu cigarro e café para aquele lugar. Era o terceiro andar do prédio, já dava altura razóalvel, melhor que sua janela do quarto, que se encontra no segundo andar de uma casa grande. A vista dessa sacada improvisada, que divide sua presença com rodos e vassouras de limpar a empresa, era o infinito. Se olhasse mais pra perto do prédio, casas feias. Melhor então era olhar beeem adiante e esquecer que estava na periferia de Aparecida de Goiânia.
Cada vez que parava ali, seu peito ia enchendo, enchendo. Enchia de coisas muito boas. Como se algo bom pudesse chegar. Como se alguma coisa muito boa fosse acontecer assim, inesperadamente. E voltava lá a todo momento, porque sentir aquilo era bom demais. Algumas lembranças espaçadas. Mas nada importante. Toda hora que voltava a sala sentia necessidade de contar:
_Vocês viram? O céu finalmente chegou!!!
Gracinha esperou tanto. Agora poderá dormir de janelas abertas, só pra sentir o espetáculo diário, a combinação perfeita que tanto enche seu coração de alguma coisa boa que não sabe explicar.
E de tanto ir e vir, no mesmo lugar, chegou ao seu lugar mais comum. A lembrança ideal. Aquela que ela nem sabia definir. Algo que a fez estar bem todos esses anos nessa mesma época.
É Lindomar. Foi bem assim, desse jeito. Lindomar veio em um abril qualquer, há mais ou menos sete anos atrás.
_ Abril e Lindomar. Mas então é isso!!!!!!!! Exclacmou alto para si.
Junto com aquele céu mais o sol e todo o resto, veio a paixão de Gracinha. Era naquele tempo de faculdade. Acordava cedo, levava um copinho de café de casa. Descia os quarteirões com aquele frio na barriga, sem saber a hora certa de vê-lo. Podia ser a qualquer momento. Ou no intervalo, entrada saída. Todo dia uma surpresa. Era tanta paixão, tanta blusa de frio, arrumações, músicas, cafés, cigarros, cervejas. Horas de aula perdidas para se perder no olhar caidínho de Lindomar. E sempre voltar pra casa pensando se estava apaixonado também.
Abril foi um marco.
Para todos os anos consecutivos, essa foi a melhor estação sempre.
Incoscientemente, Gracinha levou consigo as melhores sensações, só não pode mais, levar Lindomar.
Aaaaaaaain, meu coração aperta...
ResponderExcluirpelo céu de abril...
pelas lembranças em outro peito que aperta que não o meu, mas que também é o meu.
Enfim...
Seus textos sao lindos, amiga!
^^
chorei!
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