Eram duas histórias que se emaranhavam. Tipo de coisa normal, quando se mistura o sangue. Nada que representasse complicações na vida delas. Tratava-se apenas do emaranhamento da convivência. Cruzar no café da manhã, dividir chuveiro, emprestar dinheiro ou maquiagem, concordar sobre os destemperos da mãe, discordar de outras tantas...
De tão emaranhado, Amaralina ia descendo a ladeira de 40 minutos rumo ao "lar doce lar", com um peso insustentável no corpo. Estava tudo tão mais pesado que de costume. Até a belezura de céu que se estampou depois da chuva, não mereceu mais que uma frase em dó menor de sua boca. Seus olhos iam lacrimejando de tempo em tempo, quando pensava que chegaria em casa, e nao teria nem a presença da ausência dela por causas dos compromissos do dia, enquanto ia assoviando e cantando baixinho pra si mesma alguma coisa que fazia lembrar-se de si, e que cabia tão bem nas medidas da situação "Amaralina via de lá/Lágrimas de assustar derramava ela/A assombração a piar/Naquela sentinela via assoviar/Sopro cor de anilina de cor que não se via/via Amaralina /A tal meniiiiiiiiiiina de áaaaaaguas revirar
De fogo ia criar /De luz uma passarela/Láaaaaa da janeeeeeeela /Cor de anilina/Cor que não se via/via Amaralina/Cor de anilina de cor que não se via via Amaraliiiiiiiiina."
É que Ana Beleza, resolveu casar pela segunda vez. E tiveram só um ano pra conviver todos os dias. Pra Amaralina, um ano é coisa pouca, em se tratando da abundância de emoções que tem pra viver, sentir, compartilhar.
Quando voltou pra casa, Amaralina lembrou que tinha esquecido que tinha saudade, e sem entender porque, tratou logo de alinhar sua vida com a da irmã. Encorajou-se. Deu alguns passos adiante. Dançaram, beberam, riram, choraram. Riram muito mais do que conseguiram nos ultimos sete anos anteriores. Retomaram duas vidas meio perdidas, se encheram delas... Resgataram um amor que sempre foi demonstrando pelas metades. Devia ser medo, sei lá.
"Caminho longo esse de casa"...
Desenterrou muita melancolia do peito. Sentir que estava indo pra uma casa que não conseguia sentir mais que era sua, também doía e tornava tudo tão mais esquisito. Estendeu o pensamento pra tantos outros lugares.
O lugar dos 30 anos que quer ter 30 anos. A ida de uma, mostrou que o ciclo da outra também havia terminado. Essas coisas que ficam presas no tempo e espaço atemporal e imaterial, a mercê de nossas interpretações, são mesmo capazes de mover céus e terras. Não achamos nossos destinos em livros. Vamos bordando nossas vidas em algum material sublime, com linhas de cetim, recolhendo desses lugares que vamos apalpando com o as mãos do pensamento, conclusões que movem nossos moinhos.
E os moinhos dessas duas garotas vão girando agora no mesmo sentido, que não duvido ser anti-horário, mas movem-se na certeza de que bem do lado mesmo, está o outro, compartilhando do mesmo vento e das mesmas intempéries.
Dificuldade de acordar em lugares estranhos. Os avisos prévios, andam cada vez mais curtos. Definitivamente Amaralina se perde com tudo isso. Vem a metamorfose, carrega tudo embora, e ela, tentando catar os últimos pedaços soltos no vento. Tentando resgatar e lembrar o que é ser ela mesma, e assim quem sabe, achar uma pista de onde deve ir.
Mas isso fica pra semana que vem, sabe se lá quando, talvez amanhã.
Agora só consegue chegar na melancolia que veio com a anunciação da mudança, e encher o olhos de lágrimas, quando lembra que vai chegar em casa, e Ana Beleza, terá levado o resto de suas coisas.
Um quarto vazio.
O eco ecoando saudade.
Um pedaço de vida que passou.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Visitinha rápida de Marcico
_ Existe um problema... Além de eu te achar linda e de te amar muito, você é muito gostosa... E eu demonstro muito melhor meu tesão que o meu amor Valentina...
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Tinha um andado meio torto e meio arrastado (já contava suas botas sempre gastas do lado de dentro).
O braço sempre mexia mais que o necessário, pra acompanhar todo o blá blá e o requebrado dos seus caminhos sem propósito.
Sempre foi mais "The Ocean" do que "Dazed and Confused". Muito mais o vento que sacudia a poeira da calçada do que a enxurrada que levava todo aquele entulho rua abaixo.
Com todo aquele cabelo que se bagunçava enquanto ia andando,
(sem dúvida todo aquele vento a fazia sentir-se mais linda),
ia bagunçando também toda alma de vivente que permitisse pelas bandas do lado de lá da calçada...
Êhêeee Alzira...
Não tinha tempo ruim que aumentasse o cumprimento de sua saia.
O braço sempre mexia mais que o necessário, pra acompanhar todo o blá blá e o requebrado dos seus caminhos sem propósito.
Sempre foi mais "The Ocean" do que "Dazed and Confused". Muito mais o vento que sacudia a poeira da calçada do que a enxurrada que levava todo aquele entulho rua abaixo.
Com todo aquele cabelo que se bagunçava enquanto ia andando,
(sem dúvida todo aquele vento a fazia sentir-se mais linda),
ia bagunçando também toda alma de vivente que permitisse pelas bandas do lado de lá da calçada...
Êhêeee Alzira...
Não tinha tempo ruim que aumentasse o cumprimento de sua saia.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Existia uma bunda. Existia também uma buceta cabeluda e com alguns problemas no percurso. Só não sabia se tais dignissimos elementos giravam em torno do coração, ou o coração em torno deles. Ficava na dúvida e não era porque queria. Ela se sentia toda maçã (seios, face, pernas etc), enquanto queria se derramar em calda de framboesa.
Sentado a margem do colchão datado de mil novecentos e bolinha, tinha um cara. Esse cara, encarava o tempo, sempre de mãos preenchidas (ou era seu cigarro, ou o copo de Bacardi, ou as duas coisas, quando muito as batatas da perna dela, as coxas, os pés). Encarava o tempo e não olhava nos olhos dela. Não olhava nos olhos dela!!!!!!!!!! Isso marcou pra sempre, mesmo ainda não tendo passado 24 horas. Encarava com o rosto imóvel, olhar longínquo. E dentro da imobilidade de seu semblante, ela notava um redemoinho dentro dele. Notava toda inquietação, que o fazia descompreender-se diante de tudo que morava ali na sala escura.
Ela pensava o tempo todo que ele se contorcia de amor. O tal do Amor estava tão forte que estava, até!, doendo. E a bunda que jurava nunca mais encostar. TSc TSc. Assunto que deu pano pra manga: promessa dura de cumprir. O amor que o fazia nascer tantas e tantas vezes por dia, cada vez mais inteiro e carregado de caixinhas surpresas. Caixinhas cheias de versos, saltando em papéis. Caixinhas cheias de requebrados e passos de valsa, saltando pelas sua cintura e longos cabelos. Caixinhas cheias de planos para o futuro e de futuro incerto. Caixinhas cheias dela com ela e mais uma dela, perfumada e macia. E quando mais a olhava, ficava com aquela mesma cara da sua ovelha com dúvida. Vale lembrar que essa ovelha nem cara tem. Então sintam-se a vontade para darem a cara que bem entenderem.
Marciano alguma coisa cheia de M's afora, e um apelido para poucos. Heterônimos a parte, o cara não estava sozinho: tinha ainda um alter-ego que zanzava pelo mesmo colchão-banheiro-sala, deixando a cabeça dela ainda mais confusa. Não adiantava dizer nada, que ia lá e a remendava. Frases curtas, "de efeito", e com um sotaque que ele jura dizer ser "Sotaque de Russo Bêbado" e que pra ela não passa do Zé Buscapé quando acabou de acordar. Mas poesia por poesia, lirismos por lirismos, bêbado por bêbado, ficamos então com o sotaque Russo, para não desapontá-loS.
Voltemos então ao Amor porque naquela buceta cabeluda, ou na bunda levemente arrebitada, não está guardada sua "sinceridade extrema", taxada de caô, tão sinceramente por ele. Aquela buceta e aquela bunda, desprendem todo tipo de reação em cadeia, que hoje já foge do seu controle.
A Lua descia às pressas, tenra e amarelo-ouro, abandonando a vista da janela. Ia o quanto antes, pra não ter que assistir mais, o encontro em vão dos três, enquanto qualquer tentativa de amor, virava fumava de cigarro ou canções refinadas, pra um cenário muito mal usado.
Sentado a margem do colchão datado de mil novecentos e bolinha, tinha um cara. Esse cara, encarava o tempo, sempre de mãos preenchidas (ou era seu cigarro, ou o copo de Bacardi, ou as duas coisas, quando muito as batatas da perna dela, as coxas, os pés). Encarava o tempo e não olhava nos olhos dela. Não olhava nos olhos dela!!!!!!!!!! Isso marcou pra sempre, mesmo ainda não tendo passado 24 horas. Encarava com o rosto imóvel, olhar longínquo. E dentro da imobilidade de seu semblante, ela notava um redemoinho dentro dele. Notava toda inquietação, que o fazia descompreender-se diante de tudo que morava ali na sala escura.
Ela pensava o tempo todo que ele se contorcia de amor. O tal do Amor estava tão forte que estava, até!, doendo. E a bunda que jurava nunca mais encostar. TSc TSc. Assunto que deu pano pra manga: promessa dura de cumprir. O amor que o fazia nascer tantas e tantas vezes por dia, cada vez mais inteiro e carregado de caixinhas surpresas. Caixinhas cheias de versos, saltando em papéis. Caixinhas cheias de requebrados e passos de valsa, saltando pelas sua cintura e longos cabelos. Caixinhas cheias de planos para o futuro e de futuro incerto. Caixinhas cheias dela com ela e mais uma dela, perfumada e macia. E quando mais a olhava, ficava com aquela mesma cara da sua ovelha com dúvida. Vale lembrar que essa ovelha nem cara tem. Então sintam-se a vontade para darem a cara que bem entenderem.
Marciano alguma coisa cheia de M's afora, e um apelido para poucos. Heterônimos a parte, o cara não estava sozinho: tinha ainda um alter-ego que zanzava pelo mesmo colchão-banheiro-sala, deixando a cabeça dela ainda mais confusa. Não adiantava dizer nada, que ia lá e a remendava. Frases curtas, "de efeito", e com um sotaque que ele jura dizer ser "Sotaque de Russo Bêbado" e que pra ela não passa do Zé Buscapé quando acabou de acordar. Mas poesia por poesia, lirismos por lirismos, bêbado por bêbado, ficamos então com o sotaque Russo, para não desapontá-loS.
Voltemos então ao Amor porque naquela buceta cabeluda, ou na bunda levemente arrebitada, não está guardada sua "sinceridade extrema", taxada de caô, tão sinceramente por ele. Aquela buceta e aquela bunda, desprendem todo tipo de reação em cadeia, que hoje já foge do seu controle.
...
A Lua descia às pressas, tenra e amarelo-ouro, abandonando a vista da janela. Ia o quanto antes, pra não ter que assistir mais, o encontro em vão dos três, enquanto qualquer tentativa de amor, virava fumava de cigarro ou canções refinadas, pra um cenário muito mal usado.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Poeta com café e cigarro
Pra contrariar finalmente a sina de Valentina, a guitarra do Poeta está a quatro anos no conserto. Até um possível violão fora extraviado por um maluco qualquer, quando o mesmo estava a caminho do seu futuro dono.
Quando a quis, ela não quis. Teve que querer mais umas três vezes, pra se dar conta de ele era potencialmente um romance daqueles avassaladores. Na verdade, precisou ele ter uma crise sartreana e sumir por alguns instantes, fazendo nascer no estômago dela algo gelado e que borbulhava. Deu medo de ele ser mais um daqueles figuras, que vem, colocam o mel na boca e depois somem.
Quando finalmente, resolveu se alinhar numa roupa mais ou menos, e trajar sua calcinha mais velha e frouxa listrada, pra ir de encontro com a melhor trepada da sua vida, dali nunca mais teve vontade de sair.
Valentina encantou-se, e mal sabe ela onde começou aquela coisa toda. Talvez teria sido a iguaria por ele apresentada do bar sujo ao lado, ou então ter lido seus textos incríveis. Até mesmo o fato do Poeta ter uma cara de vagabundo nata, que se mistura com sua estante de livros e sua coleção de vinil. Tem até um com poesias recitadas do Drummond. Ah, talvez seja demais pra um coração tão pequeno.
Esse poeta vem cuidando dela, regando flor por flor nascida da necessidade da sua presença.
Uma xícara de café com açúcar recentemente adquirido, especialmente pra ela. Esse Poeta além de cultivar algumas manias peculiares, não consome açúcar. Talvez ele pense que isso vai amenizar seus problemas de saúde, contrabaleceando com aquele torresmo gigante e sua dose de Gin diária. Uma camiseta de um preto descorado no canto do colchão da sala, tamanho P. Um corpo que guarda definitivamente o cheiro mais familiar da sua coleção infinita de cheiros.
Aquele cara, O Poeta, tem uma coisa que junta com o cheiro e com um cigarro atrás do outro que fuma, que a faz se sentir muito bem, como se retornasse a algum lugar de origem. Mautner e Noriel Vilela. Duas cafeteiras, sendo uma italiana e uma francesa. Uma máquina de expresso que ainda não funciona. Lima na geladeira. Uma boca carnuda e mãos imensas. E um cérebro de dar tesão na maior das frígidas.
Agora é assim, por um lado, acabou o sossego. Foi fazer um prato pra jantar e achou a comida pouco temperada. Colocou pimenta forte. Ainda assim estava sem graça. Pegou banana, descascou,colocou no prato. Ainda assim, faltava algo. Levantou e foi pra debaixo do chuveiro. A áua também não saciou sua inquietação. Tentou masturbar-se. Não conseguiu porque tinha algo que incompletava seu desejo.
Notou que não era desejo de comer, nem de nada.
Era só a falta do seu Poeta, ali do lado, acarinhando seus minutos com sua voz tenra e sua barba bagunçada, seu cheirinho suave, seu olhar miúdo que é de ventinho das oito da manhã.
É...
Acho que Valentina precisa urgentemente de uma cartomante.
Quando a quis, ela não quis. Teve que querer mais umas três vezes, pra se dar conta de ele era potencialmente um romance daqueles avassaladores. Na verdade, precisou ele ter uma crise sartreana e sumir por alguns instantes, fazendo nascer no estômago dela algo gelado e que borbulhava. Deu medo de ele ser mais um daqueles figuras, que vem, colocam o mel na boca e depois somem.
Quando finalmente, resolveu se alinhar numa roupa mais ou menos, e trajar sua calcinha mais velha e frouxa listrada, pra ir de encontro com a melhor trepada da sua vida, dali nunca mais teve vontade de sair.
Valentina encantou-se, e mal sabe ela onde começou aquela coisa toda. Talvez teria sido a iguaria por ele apresentada do bar sujo ao lado, ou então ter lido seus textos incríveis. Até mesmo o fato do Poeta ter uma cara de vagabundo nata, que se mistura com sua estante de livros e sua coleção de vinil. Tem até um com poesias recitadas do Drummond. Ah, talvez seja demais pra um coração tão pequeno.
Esse poeta vem cuidando dela, regando flor por flor nascida da necessidade da sua presença.
Uma xícara de café com açúcar recentemente adquirido, especialmente pra ela. Esse Poeta além de cultivar algumas manias peculiares, não consome açúcar. Talvez ele pense que isso vai amenizar seus problemas de saúde, contrabaleceando com aquele torresmo gigante e sua dose de Gin diária. Uma camiseta de um preto descorado no canto do colchão da sala, tamanho P. Um corpo que guarda definitivamente o cheiro mais familiar da sua coleção infinita de cheiros.
Aquele cara, O Poeta, tem uma coisa que junta com o cheiro e com um cigarro atrás do outro que fuma, que a faz se sentir muito bem, como se retornasse a algum lugar de origem. Mautner e Noriel Vilela. Duas cafeteiras, sendo uma italiana e uma francesa. Uma máquina de expresso que ainda não funciona. Lima na geladeira. Uma boca carnuda e mãos imensas. E um cérebro de dar tesão na maior das frígidas.
Agora é assim, por um lado, acabou o sossego. Foi fazer um prato pra jantar e achou a comida pouco temperada. Colocou pimenta forte. Ainda assim estava sem graça. Pegou banana, descascou,colocou no prato. Ainda assim, faltava algo. Levantou e foi pra debaixo do chuveiro. A áua também não saciou sua inquietação. Tentou masturbar-se. Não conseguiu porque tinha algo que incompletava seu desejo.
Notou que não era desejo de comer, nem de nada.
Era só a falta do seu Poeta, ali do lado, acarinhando seus minutos com sua voz tenra e sua barba bagunçada, seu cheirinho suave, seu olhar miúdo que é de ventinho das oito da manhã.
É...
Acho que Valentina precisa urgentemente de uma cartomante.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Feliciana_Quinto ato
O carpete cinza, praticamente novo, daquela escada inutilizada de um teatro, lhe pareceu bom cenário. Ajuda toda aquela esquisitice que sente estando do lado dele, parecer coisa trivial. Sim, Feliciana se apega a cenários. Olhando a rampa quis sair rolando, só pra fazer estripulia mesmo. Olhando as escadas abaixo sentiu vontade de fazer uma coreografia, mas nada muito sensual. Olhando pro teto, pensou N coisas. Olhando pro lado esquerdo, sentia vazio. Quando então juntava ar, e se virava pro lado direito, perdia nos olhos perdidos dele, que só pareciam estar encontrados, quando de nariz encostado. O cheiro é particular, e fica no corpo. O corpo é magro, esguio, moreno. A pele macia. E o sorriso mais macio ainda. Pra quem diz que sorri muito pouco, sorriu até demais, mas só porque ela é mesmo engraçada. De tudo ela sente um pouco em companhia de alguém tão diferente. Sente os extremos, porque se fosse alguma coisa ali do meio, a cerveja trincando sob 10° de temperatura, e o ar denso da escada sob um repertório pra lá de desafinado, não teria o menor espaço em seu coração. Muito menos na lembrança. Não mereceria sequer uma linha escrita, dirá então as entrelinhas, seu hábito predileto!
sábado, 21 de maio de 2011
Jurema não tinha nada que fosse dela mesma. Assim de nascença, nada. Tudo nela era fruto da cabeça de outras pessoas, senão da narradora que aqui vos fala. E nem era sua própria culpa, coitada! Não podia jamais ser acusada de dupla personalidade ou Maria-vai-com-as-outras. Que força ela teria pra sair do papel e adquirir alma coração e tudo mais que a falta?
Além de todo esse sem-gracismo de seres inanimados inventandos e de rumo incerto, era magrinha de dar dó. Tinha o cabelo murchinho que não enchia uma mão. E o aparelho nos dentes? Ah! O sonho dela hoje em dia é poder roer as unhas, mas os dentes tentando voltar pro lugar, hoje não se encostam mais, os debaixo com os de cima. . Ao menos hoje em dia tem as unhas feitas, então aproveita pra morrer de coçar as canelas, quando os cabelos da perna começam a nascer. Nesse tempo seco então, arranca aparas da pele, tipo caspa de cabelo.
Apesar de esquisita, ainda assim tinha seus dois pretendentes. Esquisitos também, mas ambos a queriam muito bem. Essa era a face da sua esperteza, pois aproveitava bem da situação. Um deles adorava aquele sempre resto de batom em sua boca, e o outro gostava mais do seu esmalte sempre descascado. Então pra nunca desagradar ninguém, mantinha esse ritual.
Ela sempre assim tão confusa, ora Pedro ora José, mas com tanto amor no coração. Indizível e indivizível. Administrando como dava, e amando cada dia um, e do seu jeito.
Tinha algo nela, por trás dequele amarelidão, que fazia toda natureza admirar sua existência. Fazia todo tempo e espaço sideral parar em completa contemplação. Devolvia a toda criação o motivo da existência. Fazia o sol ser mais Sol e a água mais "molinha", o verde mais macio, e o cantar dos passarinhos uma oitava maior. Fazia o vento mais suave, e os cascalhos mais leves por debaixo dos pés. Dava cor onde não tinha som. Dava motivo de cantar as fotografias preto e branco. Fazia-se crocante o caminhar. Devolvia a luz para quem já realmente não se interessa por quase nada. Jurema, por debaixo de todas suas cicatrizes, dores irresolvíveis, alma já amassada passada e repassada por diversas vezes, tinha um dom. Dom de poucos: ela jamais perdia sua capacidade de se emocionar. Aquela sabe? Que se enche os olhos de água, depois de deixar-se transbordar sentimento bom, que seja uma simples contemplação da chegada da manhã em sua janela, ou o simples reconhecimento do amor no próximo, talvez só pela lembrança de estar vivo.
Tirem tudo dela. Só não tirem dessa jovem senhora de 44 anos, tão pálida mas tão capaz de amar, a capacidade de se emocionar com a vida, pura e simples.
Além de todo esse sem-gracismo de seres inanimados inventandos e de rumo incerto, era magrinha de dar dó. Tinha o cabelo murchinho que não enchia uma mão. E o aparelho nos dentes? Ah! O sonho dela hoje em dia é poder roer as unhas, mas os dentes tentando voltar pro lugar, hoje não se encostam mais, os debaixo com os de cima. . Ao menos hoje em dia tem as unhas feitas, então aproveita pra morrer de coçar as canelas, quando os cabelos da perna começam a nascer. Nesse tempo seco então, arranca aparas da pele, tipo caspa de cabelo.
Apesar de esquisita, ainda assim tinha seus dois pretendentes. Esquisitos também, mas ambos a queriam muito bem. Essa era a face da sua esperteza, pois aproveitava bem da situação. Um deles adorava aquele sempre resto de batom em sua boca, e o outro gostava mais do seu esmalte sempre descascado. Então pra nunca desagradar ninguém, mantinha esse ritual.
Ela sempre assim tão confusa, ora Pedro ora José, mas com tanto amor no coração. Indizível e indivizível. Administrando como dava, e amando cada dia um, e do seu jeito.
Tinha algo nela, por trás dequele amarelidão, que fazia toda natureza admirar sua existência. Fazia todo tempo e espaço sideral parar em completa contemplação. Devolvia a toda criação o motivo da existência. Fazia o sol ser mais Sol e a água mais "molinha", o verde mais macio, e o cantar dos passarinhos uma oitava maior. Fazia o vento mais suave, e os cascalhos mais leves por debaixo dos pés. Dava cor onde não tinha som. Dava motivo de cantar as fotografias preto e branco. Fazia-se crocante o caminhar. Devolvia a luz para quem já realmente não se interessa por quase nada. Jurema, por debaixo de todas suas cicatrizes, dores irresolvíveis, alma já amassada passada e repassada por diversas vezes, tinha um dom. Dom de poucos: ela jamais perdia sua capacidade de se emocionar. Aquela sabe? Que se enche os olhos de água, depois de deixar-se transbordar sentimento bom, que seja uma simples contemplação da chegada da manhã em sua janela, ou o simples reconhecimento do amor no próximo, talvez só pela lembrança de estar vivo.
Tirem tudo dela. Só não tirem dessa jovem senhora de 44 anos, tão pálida mas tão capaz de amar, a capacidade de se emocionar com a vida, pura e simples.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Feliciana_terceiro ato
Aquele sorriso de antes, não sabe disfarçar quando dá de cara com Feliciana. Muito menos ela consegue conter seu sorriso-resposta. Consegue enxergar lá no fundo da alma dele. Vê todo o desejo contido, escondido por uma camiseta azul comum. O gingado na cintura e o bater de pés quando dança já não engana mais seu coração, apesar de ainda tremer toda a carne por dentro, quando aquela boca larga se abre em conjunto com os olhos brilhando.
Nem Tom Zé foi remédio.
Nem Tom Zé foi remédio.
Ela se deu conta.
Saltou do carro ainda sorrindo.
Espiou a redondeza. Aquela avenida era mesmo de assustar. Vai atravessar pra ver? Muito tempo esperando sem faixa de pedestre ou semáforo. Decidiu abrir mão do táxi que sempre pega de frente a distribuidora de bebidas. A noite fria e a cabeça cheia merecem cada passo adiante.
Chegada uma certa época da vida, muitos medos se vão, e no meio deles, perdeu o medo de andar sozinha, a pé, de noite. Não que sua mente ficasse livre desse pensamento "saio correndo, gritando, enfio o dedo nos olhos, poxa, é infalível essa do dedo nos olhos!". Além de toda hora olhar pra trás para conferir se qualquer perigo estava mesmo distante.
Pensou numa pamonha durante todo caminho. Ficou imaginando encontrar algum lugar que estivesse. Mas, lá por 10 minutos de caminhada, estava bem certo que não acharia muita coisa além do churrasquinho de gato do Setor Pedro Ludovico.
_ É! Tem aquele pão de queijo do posto.
Desceu o percurso todo mirando o próprio tênis e as mãos nos bolsos do casaco. Pensava no pão de queijo, pensava nas panelas em cima do fogão. A última coisa que comeu, mmm, foi no almoço.
E as mãos ainda dentro casaco. Definitivamente, ela não sabe o que fazer com as mãos quando não está segurando um cigarro. E será que alguém sabe? Ficou tentando imaginar as pessoas que conhece e que não fuma. Lembrou de quem coloca as mãos pra trás, lembrou de quem coloca as mãos no bolso. Só não conseguiu lembrar daqueles que deixam assim, os braços caídos, com as mãos penduradas, soltas, livres de qualquer compromisso. O compromisso chato de ter sempre que segurar alguma coisa.
O cachorro de madame que usa botinhas nas quatro patas não merece comentários. Se seu cachorro ganhasse dois pares de botas, bem capaz de rasgá-los no primeiro instante, ou de empacar no primeiro passo. É, porque Lúcia era daquelas de ter coisas normais. E normal é cachorro rasgar essas coisas que incomodam.
Por causa do frio, a pista de cooper estava lotada, e as barraquinhas de água de coco, relativamente vazias. E suas veias desentupindo pelo simples motivo de não ter carteira de motorista. Sempre pensa nisso, mas sempre se consola. O que nunca falta, são motivos. Dos mais convincentes.
Caminhando e os últimos dias habitando sua cabeça. Chegou a conclusão de que essa última viagem não foi daquelas que merecem marcar reunião com as amigas para contar detalhes. Tudo tão normal e tão ela mesma. Fez tudo sozinha, mesmo quando estava cercada de pessoas. Não conseguiu doar atenção para quase nada, e não sentiu aquela felicidade de arrebentar o peito! Se sentiu bem só, é a grande verdade.
O pão de queijo estava bom, mas o café não. Nem por isso torceu o nariz. Queria logo chegar em casa. Andou depressa, esquadrinhando seus dias, seus meses, aparando seus planos, imaginando possíveis futuros, agradecendo os momentos, concluindo situações.
"_ Minha vida não é grande coisa, nem melhor. Pode até ser meio boba pra muita gente. Mas é minha. Só minha. E está tudo no lugar que eu mesma coloquei."
Abriu um sorriso pro nada.
Abriu um sorriso pra noite que não bota mais medo.
Abriu um sorriso pra si mesma. Sorriso de satisfação.
Espiou a redondeza. Aquela avenida era mesmo de assustar. Vai atravessar pra ver? Muito tempo esperando sem faixa de pedestre ou semáforo. Decidiu abrir mão do táxi que sempre pega de frente a distribuidora de bebidas. A noite fria e a cabeça cheia merecem cada passo adiante.
Chegada uma certa época da vida, muitos medos se vão, e no meio deles, perdeu o medo de andar sozinha, a pé, de noite. Não que sua mente ficasse livre desse pensamento "saio correndo, gritando, enfio o dedo nos olhos, poxa, é infalível essa do dedo nos olhos!". Além de toda hora olhar pra trás para conferir se qualquer perigo estava mesmo distante.
Pensou numa pamonha durante todo caminho. Ficou imaginando encontrar algum lugar que estivesse. Mas, lá por 10 minutos de caminhada, estava bem certo que não acharia muita coisa além do churrasquinho de gato do Setor Pedro Ludovico.
_ É! Tem aquele pão de queijo do posto.
Desceu o percurso todo mirando o próprio tênis e as mãos nos bolsos do casaco. Pensava no pão de queijo, pensava nas panelas em cima do fogão. A última coisa que comeu, mmm, foi no almoço.
E as mãos ainda dentro casaco. Definitivamente, ela não sabe o que fazer com as mãos quando não está segurando um cigarro. E será que alguém sabe? Ficou tentando imaginar as pessoas que conhece e que não fuma. Lembrou de quem coloca as mãos pra trás, lembrou de quem coloca as mãos no bolso. Só não conseguiu lembrar daqueles que deixam assim, os braços caídos, com as mãos penduradas, soltas, livres de qualquer compromisso. O compromisso chato de ter sempre que segurar alguma coisa.
O cachorro de madame que usa botinhas nas quatro patas não merece comentários. Se seu cachorro ganhasse dois pares de botas, bem capaz de rasgá-los no primeiro instante, ou de empacar no primeiro passo. É, porque Lúcia era daquelas de ter coisas normais. E normal é cachorro rasgar essas coisas que incomodam.
Por causa do frio, a pista de cooper estava lotada, e as barraquinhas de água de coco, relativamente vazias. E suas veias desentupindo pelo simples motivo de não ter carteira de motorista. Sempre pensa nisso, mas sempre se consola. O que nunca falta, são motivos. Dos mais convincentes.
Caminhando e os últimos dias habitando sua cabeça. Chegou a conclusão de que essa última viagem não foi daquelas que merecem marcar reunião com as amigas para contar detalhes. Tudo tão normal e tão ela mesma. Fez tudo sozinha, mesmo quando estava cercada de pessoas. Não conseguiu doar atenção para quase nada, e não sentiu aquela felicidade de arrebentar o peito! Se sentiu bem só, é a grande verdade.
O pão de queijo estava bom, mas o café não. Nem por isso torceu o nariz. Queria logo chegar em casa. Andou depressa, esquadrinhando seus dias, seus meses, aparando seus planos, imaginando possíveis futuros, agradecendo os momentos, concluindo situações.
"_ Minha vida não é grande coisa, nem melhor. Pode até ser meio boba pra muita gente. Mas é minha. Só minha. E está tudo no lugar que eu mesma coloquei."
Abriu um sorriso pro nada.
Abriu um sorriso pra noite que não bota mais medo.
Abriu um sorriso pra si mesma. Sorriso de satisfação.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Feliciana_segundo ato
A saudade de Feliciana se acostumou.
Acostumou tanto ser saudade que perdeu as propriedades orgânicas: as vitaminas.
Desacelerou o metabolismo.
Suas moléculas já são incapazes de gerar o (des)conforto (des)necessário.
Acostumou tanto ser saudade que perdeu as propriedades orgânicas: as vitaminas.
Desacelerou o metabolismo.
Suas moléculas já são incapazes de gerar o (des)conforto (des)necessário.
Gracinha e Lindomar
Gracinha, porque assim gostava de ser chamada. Melhor Gracinha do que Graça, como se algo de bom estivesse sempre a agraciá-la. Ou então: Chegou Graça! Não, melhor não causar falsos impactos.
E hoje o dia estava infinitamente belo para ela. Não se cansava de ir até o para-peito da varandinha do seu trabalho para apreciar o tempo. Esperou sem saber que estava esperando. Esperava sempre todos os anos, e mesmo assim, quando tudo se passava, esquecia de esperar. Vai saber porque, deve ser tendência mesmo do ser humano de esquecer das coisas boas e bonitas. O céu do Cerrado, aquele peculiar que sempre se inicia no mês de abril, logo quando acabam as chuvas, mesclado a nuvens escassas. Mas bom mesmo é quando não há nuvens. O sol que brilha diferente. Brilha tímido, mas brilha forte. Brilha único. O vento para dar o desfecho da obra prima da estação: frio e forte. Mas aquele frio que um goiano pode suportar. O frio de se poder colocar um lenço no pescoço, usar botas meias grossas e o que mais for de bonito existente no guarda-roupa bagunçado dela.
Gracinha toda hora ia correndo com seu cigarro e café para aquele lugar. Era o terceiro andar do prédio, já dava altura razóalvel, melhor que sua janela do quarto, que se encontra no segundo andar de uma casa grande. A vista dessa sacada improvisada, que divide sua presença com rodos e vassouras de limpar a empresa, era o infinito. Se olhasse mais pra perto do prédio, casas feias. Melhor então era olhar beeem adiante e esquecer que estava na periferia de Aparecida de Goiânia.
Cada vez que parava ali, seu peito ia enchendo, enchendo. Enchia de coisas muito boas. Como se algo bom pudesse chegar. Como se alguma coisa muito boa fosse acontecer assim, inesperadamente. E voltava lá a todo momento, porque sentir aquilo era bom demais. Algumas lembranças espaçadas. Mas nada importante. Toda hora que voltava a sala sentia necessidade de contar:
_Vocês viram? O céu finalmente chegou!!!
Gracinha esperou tanto. Agora poderá dormir de janelas abertas, só pra sentir o espetáculo diário, a combinação perfeita que tanto enche seu coração de alguma coisa boa que não sabe explicar.
E de tanto ir e vir, no mesmo lugar, chegou ao seu lugar mais comum. A lembrança ideal. Aquela que ela nem sabia definir. Algo que a fez estar bem todos esses anos nessa mesma época.
É Lindomar. Foi bem assim, desse jeito. Lindomar veio em um abril qualquer, há mais ou menos sete anos atrás.
_ Abril e Lindomar. Mas então é isso!!!!!!!! Exclacmou alto para si.
Junto com aquele céu mais o sol e todo o resto, veio a paixão de Gracinha. Era naquele tempo de faculdade. Acordava cedo, levava um copinho de café de casa. Descia os quarteirões com aquele frio na barriga, sem saber a hora certa de vê-lo. Podia ser a qualquer momento. Ou no intervalo, entrada saída. Todo dia uma surpresa. Era tanta paixão, tanta blusa de frio, arrumações, músicas, cafés, cigarros, cervejas. Horas de aula perdidas para se perder no olhar caidínho de Lindomar. E sempre voltar pra casa pensando se estava apaixonado também.
Abril foi um marco.
Para todos os anos consecutivos, essa foi a melhor estação sempre.
Incoscientemente, Gracinha levou consigo as melhores sensações, só não pode mais, levar Lindomar.
E hoje o dia estava infinitamente belo para ela. Não se cansava de ir até o para-peito da varandinha do seu trabalho para apreciar o tempo. Esperou sem saber que estava esperando. Esperava sempre todos os anos, e mesmo assim, quando tudo se passava, esquecia de esperar. Vai saber porque, deve ser tendência mesmo do ser humano de esquecer das coisas boas e bonitas. O céu do Cerrado, aquele peculiar que sempre se inicia no mês de abril, logo quando acabam as chuvas, mesclado a nuvens escassas. Mas bom mesmo é quando não há nuvens. O sol que brilha diferente. Brilha tímido, mas brilha forte. Brilha único. O vento para dar o desfecho da obra prima da estação: frio e forte. Mas aquele frio que um goiano pode suportar. O frio de se poder colocar um lenço no pescoço, usar botas meias grossas e o que mais for de bonito existente no guarda-roupa bagunçado dela.
Gracinha toda hora ia correndo com seu cigarro e café para aquele lugar. Era o terceiro andar do prédio, já dava altura razóalvel, melhor que sua janela do quarto, que se encontra no segundo andar de uma casa grande. A vista dessa sacada improvisada, que divide sua presença com rodos e vassouras de limpar a empresa, era o infinito. Se olhasse mais pra perto do prédio, casas feias. Melhor então era olhar beeem adiante e esquecer que estava na periferia de Aparecida de Goiânia.
Cada vez que parava ali, seu peito ia enchendo, enchendo. Enchia de coisas muito boas. Como se algo bom pudesse chegar. Como se alguma coisa muito boa fosse acontecer assim, inesperadamente. E voltava lá a todo momento, porque sentir aquilo era bom demais. Algumas lembranças espaçadas. Mas nada importante. Toda hora que voltava a sala sentia necessidade de contar:
_Vocês viram? O céu finalmente chegou!!!
Gracinha esperou tanto. Agora poderá dormir de janelas abertas, só pra sentir o espetáculo diário, a combinação perfeita que tanto enche seu coração de alguma coisa boa que não sabe explicar.
E de tanto ir e vir, no mesmo lugar, chegou ao seu lugar mais comum. A lembrança ideal. Aquela que ela nem sabia definir. Algo que a fez estar bem todos esses anos nessa mesma época.
É Lindomar. Foi bem assim, desse jeito. Lindomar veio em um abril qualquer, há mais ou menos sete anos atrás.
_ Abril e Lindomar. Mas então é isso!!!!!!!! Exclacmou alto para si.
Junto com aquele céu mais o sol e todo o resto, veio a paixão de Gracinha. Era naquele tempo de faculdade. Acordava cedo, levava um copinho de café de casa. Descia os quarteirões com aquele frio na barriga, sem saber a hora certa de vê-lo. Podia ser a qualquer momento. Ou no intervalo, entrada saída. Todo dia uma surpresa. Era tanta paixão, tanta blusa de frio, arrumações, músicas, cafés, cigarros, cervejas. Horas de aula perdidas para se perder no olhar caidínho de Lindomar. E sempre voltar pra casa pensando se estava apaixonado também.
Abril foi um marco.
Para todos os anos consecutivos, essa foi a melhor estação sempre.
Incoscientemente, Gracinha levou consigo as melhores sensações, só não pode mais, levar Lindomar.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Feliciana_primeiro ato
O olhar dele chega junto com aquela coisa embolada no estômago. O sorriso que tanto faz falta hoje, sorrindo por aí, sorrindo para outras bocas, tão mais carnudas e vermelhas que a de Feliciana.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Efeito colateral
Começava sempre nos meados de março. Não sei se o excesso de chuva da época, misturado ao gosto pelos cigarros, sereno. Sei que aquela tosse era seca. Barulhenta. Não tinha chá ou remédio que desse jeito. Receita de todo tipo já tinha feito, menos parar de fumar. Sempre vinha crises em horários impróprios. Era olhar para a cara do seu cliente e pronto. O cantarolar duro de cofs cofs começava e terminava com seu rosto ardendo em chamas, tanto de vergonha, como da própria reação da tosse. Às vezes, escorria lágrimas. Era triste de assistir. A piedade (e na verdade, o saco cheio dos ouvintes), os empurrava a indicar mais receitas, mandingas, e era um tal de "levanta os braços!".
O episódio durava meses. Ao menos uns três. Épocas piores, melhores. Mas sempre uma tossinha de fundo. Como se sentia mal. Então acendia um cigarro com a certeza de nunca seria vencida.
_ Nenem, você reparou que você fica tossindo pra sempre?
_ Claro que não. Nem estou tossindo mais, faz semanas já.
_ Você nem percebe, olha só!
O fato é que aquela tosse o incomodava mais que a qualquer outra pessoa. Eles sempre um de encontro ao outro, porta a porta, mas separados por um corredor. Ele sempre imerso nos seus devaneios lunares, e no amor que não sabia demonstrar. Com seus modos taciturnos, sorrateiros, passava horas de frente ao trabalho, com todo aquele amor que abandonava demais. Ela do outro lado, o vigiava sempre da cama, impaciente, programando coisas, sonhando com o futuro que nunca ia chegar, imaginando casamento, talvez até animaria de ter outro filho. Às vezes ia lá, dava um beijo, fazia mãnha, pedia que largasse tudo e fosse deitar com ela, ou dar uma volta. Tudo em vão.
Aquela tosse fazia dela uma lembrança.
Ele, não queria ser lembrado, que de vez em quando, era necessário Doar.
O episódio durava meses. Ao menos uns três. Épocas piores, melhores. Mas sempre uma tossinha de fundo. Como se sentia mal. Então acendia um cigarro com a certeza de nunca seria vencida.
_ Nenem, você reparou que você fica tossindo pra sempre?
_ Claro que não. Nem estou tossindo mais, faz semanas já.
_ Você nem percebe, olha só!
O fato é que aquela tosse o incomodava mais que a qualquer outra pessoa. Eles sempre um de encontro ao outro, porta a porta, mas separados por um corredor. Ele sempre imerso nos seus devaneios lunares, e no amor que não sabia demonstrar. Com seus modos taciturnos, sorrateiros, passava horas de frente ao trabalho, com todo aquele amor que abandonava demais. Ela do outro lado, o vigiava sempre da cama, impaciente, programando coisas, sonhando com o futuro que nunca ia chegar, imaginando casamento, talvez até animaria de ter outro filho. Às vezes ia lá, dava um beijo, fazia mãnha, pedia que largasse tudo e fosse deitar com ela, ou dar uma volta. Tudo em vão.
Aquela tosse fazia dela uma lembrança.
Ele, não queria ser lembrado, que de vez em quando, era necessário Doar.
Tente convencer(-te) Carmem.
Alguns meses atrás:
_ Tenho raiva de homens! (desviou o olhar)
_ Engraçado, minha piscicóloga me disse o mesmo... tenho raiva das mulheres! Ah, ninguém sabe que eu já fiz terapia, então fica de bico calado viu?
Carmem podia agora falar que tinha raiva dos homens. Finalmente lhe foi dada um argumento a altura de sua vontade incontralável de traí-los. Ah, muito melhor isso do que o diagnóstico de baixa estima, medo de rejeição, ou coisas que acabam com a saúde da mulher. Apesar de que se Carmem raciocinar bem, uma coisa leva a outra que leva a outra e assim por diante. Tsc. Encheu a boca de cerveja, pra não fazer todas essas ligações óbvias. Sua psicóloga apesar de nova, e taurina, deu-lhe a melhor muleta de todos os tempos. Bastasse manter essa raiva no coração, e pronto. Poderia então, experimentar sempre, do bom e do melhor.
...
Alguns dias atrás:
_ Sabe um dia, que nós conversamos, que te contei que tinha raiva das mulheres?
_ Sim! (como ela poderia esquecer!)
_ Eu menti.
_ Você mentiu? Por que fez isso?
_ Queria criar uma identificação com você.
Claro que Carmem, com os pés juntos e olhos indignados, tentou provar a ele, que isso não era necessário. Que tinha dito isso com muita verdade no coração. Que jamais precisaria inventar algo assim, para que se criasse uma identificação entre eles. Pediram mais cerveja, porque agora o papo tinha ficado muito sério. Ela teve que recontar todas as vezes que o quis com muita paixão, e que pela raiva e o medo da entrega, de todos os lados que se pudesse imaginar, nunca havia feito. Ele escutava sempre em silêncio, e quando falava, olhava nos olhos.
Nesse dia, Carmem ganhou uma rosa vermelha, seu primeiro presente, depois de 4 anos. Ganhou também uma dúvida: "em qual das mentiras, devo acreditar?"
_ Tenho raiva de homens! (desviou o olhar)
_ Engraçado, minha piscicóloga me disse o mesmo... tenho raiva das mulheres! Ah, ninguém sabe que eu já fiz terapia, então fica de bico calado viu?
Carmem podia agora falar que tinha raiva dos homens. Finalmente lhe foi dada um argumento a altura de sua vontade incontralável de traí-los. Ah, muito melhor isso do que o diagnóstico de baixa estima, medo de rejeição, ou coisas que acabam com a saúde da mulher. Apesar de que se Carmem raciocinar bem, uma coisa leva a outra que leva a outra e assim por diante. Tsc. Encheu a boca de cerveja, pra não fazer todas essas ligações óbvias. Sua psicóloga apesar de nova, e taurina, deu-lhe a melhor muleta de todos os tempos. Bastasse manter essa raiva no coração, e pronto. Poderia então, experimentar sempre, do bom e do melhor.
...
Alguns dias atrás:
_ Sabe um dia, que nós conversamos, que te contei que tinha raiva das mulheres?
_ Sim! (como ela poderia esquecer!)
_ Eu menti.
_ Você mentiu? Por que fez isso?
_ Queria criar uma identificação com você.
Claro que Carmem, com os pés juntos e olhos indignados, tentou provar a ele, que isso não era necessário. Que tinha dito isso com muita verdade no coração. Que jamais precisaria inventar algo assim, para que se criasse uma identificação entre eles. Pediram mais cerveja, porque agora o papo tinha ficado muito sério. Ela teve que recontar todas as vezes que o quis com muita paixão, e que pela raiva e o medo da entrega, de todos os lados que se pudesse imaginar, nunca havia feito. Ele escutava sempre em silêncio, e quando falava, olhava nos olhos.
Nesse dia, Carmem ganhou uma rosa vermelha, seu primeiro presente, depois de 4 anos. Ganhou também uma dúvida: "em qual das mentiras, devo acreditar?"
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